Boletim 01

Análise do Cenário Mineiro para Cafeicultura

Fabrício Marques; Matheus Marques e Pedro Lucas Barros

8/30/20258 min read

Estudo Geral da Cafeicultura: Análise Abrangente do Setor no Brasil e Minas Gerais

A cafeicultura brasileira atravessa um momento de consolidação histórica, marcado por recordes de receita, inovações tecnológicas e uma crescente demanda por sustentabilidade. Este estudo abrangente revela que o Brasil está posicionado para alcançar a maior receita da história com café em 2025, com faturamento bruto estimado em R$ 125,7 bilhões, representando um salto de 57% em relação ao ano anterior. O setor demonstra resiliência excepcional mesmo diante de desafios climáticos, com Minas Gerais liderando a produção mundial e respondendo por mais de 50% da safra nacional.[1][2]

Veremos então um:
1- Panorama Produtivo e Econômico Nacional
2- Liderança de Minas Gerais no Cenário Cafeeiro
3- Cooperativismo: Pilar Fundamental do Setor
4- Sustentabilidade Certificações: Nova Fronteira
5- Desafios e Perspectivas Futuras
6- Conclusão

Panorama Produtivo e Econômico Nacional

Cenário da Safra 2025

A safra brasileira de café de 2025 apresenta perspectivas otimistas, com estimativas indicando produção total de 55,67 milhões de sacas de 60kg, representando crescimento de 2,7% em relação ao ano anterior. Esta performance é particularmente significativa por ocorrer em ano de bienalidade negativa, quando tradicionalmente a produção é menor. A distribuição entre as espécies mostra 36,97 milhões de sacas de café arábica (66,4%) e 18,70 milhões de sacas de robusta/conilon (33,6%).[3][4]

A região Sudeste mantém sua posição de destaque absoluto, com 48,38 milhões de sacas previstas para 2025, correspondendo a aproximadamente 87% da produção nacional. Esta concentração geográfica reflete a combinação ideal de fatores climáticos, topográficos e tecnológicos que caracterizam as regiões produtoras, especialmente em Minas Gerais.[3]

Dinâmica de Preços e Mercado Internacional

O mercado cafeeiro mundial experimenta uma fase de alta pronunciada nos preços, com o café arábica registrando valorização de 70% na bolsa ICE no último ano e mais de 20% apenas em 2025. Os futuros do café arábica se aproximaram de US$ 3,95 por libra, refletindo preocupações com a oferta global restrita e demanda firme dos principais mercados consumidores.[5][6]

Segundo relatório da FAO, o preço mundial do café subiu 38,8% em 2024 na comparação com o ano anterior, tendência que pode persistir. No Brasil, a inflação específica do café alcançou 66,18% no acumulado de 12 meses até fevereiro, demonstrando o impacto direto das cotações internacionais no mercado doméstico.[5]

Exportações e Competitividade

As exportações brasileiras mantêm trajetória ascendente, com expectativa de superar novamente a marca de 40 milhões de sacas em 2024/25. O Real desvalorizado tem contribuído significativamente para elevar a competitividade do café brasileiro, tornando as exportações mais atrativas para os produtores nacionais. Este cenário favorável tem sido reforçado pela limitada oferta global e demanda aquecida nos principais mercados consumidores.[7]

Liderança de Minas Gerais no Cenário Cafeeiro

Dominância Produtiva Estadual

Minas Gerais consolidou sua posição como maior produtor de café do mundo, com produção estimada de 29,2 milhões de sacas na safra de 2024, representando 50,2% da produção nacional. Se fosse um país independente, o estado ocuparia a primeira posição mundial em produção cafeeira. A área plantada total no estado alcança 1,3 milhão de hectares, distribuída em mais de 600 dos 853 municípios mineiros, onde a cafeicultura constitui a principal atividade econômica.[2][8][9][10]

Distribuição da área cafeeira por região em Minas Gerais, mostrando o Sul de Minas como líder absoluto na produção

A distribuição regional da cafeicultura mineira revela concentração significativa no Sul de Minas e Centro-Oeste, que juntas respondem por 649,9 mil hectares da área plantada total. Esta região beneficia-se de condições climáticas ideais, topografia adequada e infraestrutura consolidada, fatores que contribuem para sua supremacia produtiva.[11]

Diversidade Regional e Características Distintivas

Os cafés mineiros distinguem-se pela diversidade de sabor e aroma, resultado principalmente das variações climáticas, altitude e sistemas de produção específicos de cada região. As principais regiões produtoras incluem o Sul de Minas, Matas de Minas, Chapada de Minas e Cerrado Mineiro, cada uma com características únicas que permitem atender diversos segmentos de mercado nacional e internacional.[8]

O mapeamento do parque cafeeiro mineiro, concluído em 2018, fornece dados precisos sobre a distribuição geográfica da produção, contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas e estratégias de investimento. Esta iniciativa representa marco importante para o planejamento estratégico do setor no estado.[11]

Impacto Econômico e Social

O café representa o produto agropecuário que movimenta o maior valor de embarques de Minas Gerais para o mercado internacional, gerando US$ 6,9 bilhões em 2022 com vendas para mais de 85 países. Além da relevância econômica, a cafeicultura exerce papel social fundamental como fonte de emprego e renda para milhares de agricultores familiares e trabalhadores rurais.[8]

A receita bruta estimada para Minas Gerais em 2025 deve alcançar R$ 62,93 bilhões, cerca de 50% do total nacional. Este desempenho econômico extraordinário consolida a posição do estado como epicentro da cafeicultura brasileira e mundial.[1]

Cooperativismo: Pilar Fundamental do Setor

Estrutura e Abrangência do Sistema Cooperativo

O cooperativismo cafeeiro brasileiro apresenta estrutura robusta, com 97 cooperativas de café registradas no Sistema OCB, atendendo aproximadamente 1 milhão de produtores rurais. Em Minas Gerais, as cooperativas exercem papel ainda mais relevante, sendo responsáveis por 56,8% de toda a produção de café do estado em 2020.[12][13][9]

Esta representatividade traduz-se em impacto direto no consumo nacional: de cada 10 xícaras de café consumidas no Brasil, 3 são produzidas por cooperativas, proporção que sobe para 6 em cada 10 xícaras quando considerado apenas o estado de Minas Gerais. Estes números demonstram a centralidade do modelo cooperativo na organização da cadeia produtiva cafeeira.[9]

Principais Cooperativas e Desempenho

A Cooxupé destaca-se como a maior cooperativa de café do mundo, com mais de 13 mil cooperados distribuídos no Sul e Cerrado de Minas Gerais e Vale do Rio Pardo em São Paulo. Em 2024, a cooperativa atingiu faturamento de R$ 10,5 bilhões, consolidando-se como uma das principais cooperativas do agronegócio brasileiro.[14][15]

Outras cooperativas mineiras também apresentam desempenho significativo, incluindo Minasul, Cocatrel, Expocaccer e Coocacer, que juntas formam um ecossistema cooperativo robusto. A parceria estratégica entre Minasul e Cocatrel, materializada na UCOM (Usina Cocatrel Minasul Ltda), exemplifica as iniciativas de intercooperação que fortalecem o setor.[16][17][18]

Papel na Comercialização e Exportação

As cooperativas mineiras exercem papel fundamental nas exportações brasileiras, com 20 cooperativas mineiras exportando para 54 países em 2020, totalizando 369,4 mil toneladas. A Cooxupé, por exemplo, lidera o ranking de exportações em vários anos e embarca café para 49 países, atendendo desde pequenos torrefadores até grandes corporações multinacionais.[15][9]

O modelo cooperativo proporciona aos pequenos e médios produtores acesso a mercados globais, tecnologia avançada e condições de comercialização que individualmente seriam inacessíveis. Esta inclusão é particularmente importante considerando que 82,6% dos cooperados da Cooxupé são agricultores familiares e pequenos produtores.[15]

Sustentabilidade e Certificações: Nova Fronteira

Protocolos de Sustentabilidade Reconhecidos

A sustentabilidade tornou-se elemento central da cafeicultura moderna, com crescente reconhecimento internacional de protocolos desenvolvidos por cooperativas brasileiras. A Global Coffee Platform (GCP) reconheceu três novos esquemas de sustentabilidade em maio de 2025, sendo dois brasileiros: o Protocolo Legacy da Minasul e o Sucden Coffee Verified.[19]

O Legacy é o protocolo de sustentabilidade da Minasul, criado especificamente para atender às peculiaridades da produção do Sul de Minas Gerais, região caracterizada por pequenos produtores familiares inseridos no bioma Mata Atlântica. Foi desenvolvido seguindo recomendações da ISEAL Alliance, com processos participativos de consulta pública para definição de princípios e critérios.[20]

Diversidade de Iniciativas Sustentáveis

Além do Legacy, outros protocolos brasileiros já haviam obtido reconhecimento da GCP, incluindo o Protocolo Gerações da Cooxupé, o ECO da Expocaccer e o Café Sustentável da Coocacer. A Cooxupé foi a primeira cooperativa do mundo a ter seu protocolo de sustentabilidade reconhecido pela GCP.[19][21][22]

O protocolo ECO da Expocaccer, habilitado em janeiro de 2025, estabelece ciclo de 3 anos com foco no planejamento estratégico e implementação gradual de boas práticas. O programa é inclusivo, atendendo produtores de diferentes portes e garantindo ferramentas necessárias para produção de cafés de excelência.[23]

Impacto no Mercado e Rastreabilidade

As certificações têm ganhado força crescente, especialmente diante de regulamentações internacionais como a Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR), que entrará em vigor no final de 2025. As cooperativas têm promovido seminários sobre rastreabilidade, carbono zero e governança para preparar seus cooperados para estas exigências.[24]

A rastreabilidade, ESG e carbono zero estão no centro da estratégia das cooperativas brasileiras, posicionando o Brasil como líder no novo cenário global de exportação de café. Esta transição representa oportunidade significativa para agregação de valor e diferenciação competitiva nos mercados internacionais.[24]

Desafios e Perspectivas Futuras

Questões Climáticas e Produtividade

O setor cafeeiro enfrenta desafios significativos relacionados às mudanças climáticas, com quatro safras consecutivas sem renovar recordes de produção desde 2020/21. Os problemas climáticos, incluindo secas, geadas e ondas de calor, têm impactado a produtividade e elevado os custos de produção em 224% nos últimos quatro anos.[5][7]

A colheita da safra 2025/26 apresenta ritmo inicial lento, com apenas 7% da produção colhida até maio, abaixo da média histórica. As chuvas têm prejudicado os trabalhos, especialmente nas áreas de conilon/robusta do Espírito Santo, Bahia e Rondônia.[25]

Inovação Tecnológica e Modernização

A modernização do setor passa pela adoção crescente de tecnologias digitais, com destaque para a conectividade rural e agricultura de precisão. Estima-se que 20% das áreas agrícolas brasileiras já utilizam agricultura de precisão, com potencial de expansão significativo.[20]

As cooperativas têm investido em plataformas digitais como o abagLAB, que atua como conector de inovação nas cadeias produtivas do agronegócio. Estas iniciativas visam facilitar o acesso a tecnologias avançadas e promover a integração entre diferentes elos da cadeia produtiva.[20]

Mercado Internacional e Competitividade

O Brasil mantém posição de liderança no cenário global, mas enfrenta crescente competição e exigências de sustentabilidade. As tarifas americanas sobre importações brasileiras têm impactado os fluxos comerciais, sustentando ainda mais os preços internacionais.[6]

A expectativa é de que os preços elevados persistam no médio prazo, considerando os estoques globais apertados e demanda mundial firme. Esta conjuntura favorável proporciona oportunidade para investimentos em qualidade, sustentabilidade e agregação de valor.[7]

Conclusão

A cafeicultura brasileira, liderada por Minas Gerais, encontra-se em momento de consolidação histórica, combinando recordes econômicos com avanços significativos em sustentabilidade e inovação tecnológica. O cooperativismo emerge como elemento fundamental desta trajetória de sucesso, proporcionando aos produtores acesso a mercados globais, tecnologias avançadas e condições competitivas.

Os desafios climáticos e as crescentes exigências de sustentabilidade representam oportunidades para diferenciação e agregação de valor. As cooperativas brasileiras têm demonstrado capacidade excepcional de adaptação, desenvolvendo protocolos próprios de sustentabilidade reconhecidos internacionalmente e investindo em tecnologias que aumentam a eficiência produtiva.

A perspectiva para 2025 e anos subsequentes indica continuidade do crescimento econômico do setor, sustentado por demanda global firme, preços favoráveis e crescente reconhecimento da qualidade dos cafés brasileiros. O modelo cooperativo continuará sendo pilar fundamental desta evolução, garantindo inclusão de pequenos produtores e fortalecimento de toda a cadeia produtiva nacional.

Referências Bibliográficas
https://drive.google.com/file/d/1Yze-H0Ipqy_f5ob5aiEisUM5SWPh10gz/view?usp=sharing