Além da Planilha, como posso avaliar meus custos na fazenda?

Será que a forma com que eu organizo minhas despesas pode me gerar uma informação errada?

RESENHAS TÉCNICAS

Fabrício Marques, Henrique Ryan e Maria Clara.

10/9/20254 min ler

Além da Planilha: 4 Verdades Surpreendentes sobre Custeio que Vão Mudar a Forma como Você Gere seu Negócio

Seu DRE (Demonstrativo de Resultados do Exercício) mensal diz se você ganhou ou perdeu o jogo, mas não mostra como ou por quê. Para isso, é preciso ir além dos relatórios financeiros tradicionais, que são feitos para terceiros, e adotar as ferramentas da contabilidade gerencial — aquelas que guiam as decisões, não apenas relatam os resultados.

Para muitos empresários, o caminho da receita até o lucro é nebuloso, fazendo com que decisões estratégicas pareçam mais um palpite do que um movimento calculado.

Embora os métodos contábeis tradicionais sejam essenciais para fins fiscais e de prestação de contas, eles nem sempre oferecem a visão completa necessária para decisões internas inteligentes. A contabilidade financeira é feita para mostrar dados a terceiros, como investidores e o governo. Já a contabilidade gerencial existe para dar a você, gestor, informações específicas e acionáveis para planejar, controlar e dirigir sua operação de forma eficaz.

Este artigo revela quatro verdades impactantes da contabilidade de custos que podem oferecer mais clareza e controle sobre o desempenho do seu negócio. Ao entender esses conceitos, você deixará de lado relatórios genéricos e começará a tomar decisões baseadas no que realmente impulsiona o seu lucro.


1. O Método “Oficial” Nem Sempre é o Mais Inteligente para Tomada de Decisões
Toda empresa precisa de um método contábil oficial para emitir seus demonstrativos financeiros. No Brasil (e em muitos outros países), o método exigido por lei é o Custeio por Absorção. Esse modelo aloca todos os custos de produção — fixos e variáveis, diretos e indiretos — aos produtos. É obrigatório porque segue o princípio da competência e garante que os custos de fabricação sejam atribuídos corretamente às receitas. 

O alerta para gestores: embora legalmente necessário, esse método pode ser enganoso para decisões estratégicas internas.

Por quê? Porque ele exige que você aloque custos indiretos (como aluguel da fábrica ou manutenção de máquinas) usando critérios de rateio subjetivos. Por exemplo, como dividir a conta de energia entre três produtos diferentes? Por área ocupada? Horas de máquina? Número de funcionários? Cada escolha de rateio gera um custo diferente para o mesmo produto.

Consequência: Você pode eliminar uma linha de produto que parece não lucrativa, mas que, na verdade, está ajudando a cobrir os custos fixos da fábrica. O método de absorção não mostra claramente a relação entre volume de produção e lucratividade — algo essencial para decisões operacionais do dia a dia


2. Sua Métrica Mais Poderosa Pode Ser a “Margem de Contribuição”, Não o Lucro
Como alternativa para gestão interna, o Custeio Variável oferece uma visão mais clara para decisões operacionais. Seu princípio é simples e poderoso: apenas os custos variáveis (aqueles que mudam conforme o volume produzido, como matéria-prima) são atribuídos aos produtos. Os custos fixos (como salários e aluguel) são tratados como despesas do período.

Esse modelo destaca uma métrica fundamental: Margem de Contribuição, calculada como:

                           Receita de Vendas – (Custos Variáveis de Produção + Despesas Variáveis)

Essa margem mostra quanto sobra de cada venda para cobrir os custos fixos da empresa e gerar lucro. Exemplo: para um produtor de leite, a margem de contribuição por litro é o preço de venda menos os custos variáveis (ração, veterinário etc.). Isso revela exatamente quanto cada litro “contribui” para pagar o salário dos funcionários, manutenção do galpão, etc.

Aplicação prática:
Recebeu um pedido especial com preço mais baixo? Se ele cobre os custos variáveis, vale a pena aceitar — pois ajuda a pagar os custos fixos. Vai descontinuar um produto? Se a margem de contribuição for positiva, ele ainda está ajudando a empresa. Essa métrica deve ser o termômetro diário da empresa.

3. O Método Mais Preciso Vem com um Custo Alto
Quando os erros dos métodos tradicionais ficam grandes demais — especialmente em negócios complexos —, é hora de considerar o Custeio ABC (Activity-Based Costing). O diferencial do ABC é como ele lida com os custos indiretos. Em vez de usar um rateio genérico, ele rastreia esses custos até as atividades que realmente os geram.

Exemplo:
Em uma fazenda de café, as atividades podem ser: preparo do solo, plantio, irrigação, colheita. O ABC calcula o custo total de cada atividade, e só depois atribui esses custos aos produtos conforme o quanto cada um consumiu dessas atividades. Ou seja, se o café arábica exige mais irrigação, ele terá um custo mais alto nessa atividade — diferente de outras variedades. Isso oferece uma visão mais verdadeira da lucratividade por produto.

Limitação:
É um método caro e complexo, exige coleta intensa de dados e muito controle. Por isso, é mais indicado para empresas maiores ou com muitos produtos e custos indiretos relevantes.

4. Você Não Precisa Escolher Apenas Um — A Força Está na Combinação
As empresas mais inteligentes não escolhem só um método. Elas constroem sistemas integrados de informação gerencial. Imagine três painéis de controle:

Método Função Principal Absorção Cumprimento legal e contábil Variável Agilidade operacional e decisões do dia a dia ABC Visão estratégica de longo prazo

O segredo está em usar os três para diferentes finalidades. Como destacou o professor Eliseu Martins (2003):

“É desejável e fundamental que a empresa tenha informações integradas: a margem de contribuição de cada produto (via custeio variável); o custo total de produção (via ABC); e o custo completo com despesas por item (via ABC completo).”

Essa abordagem oferece uma visão multifacetada da saúde financeira do negócio — combinando clareza tática com precisão estratégica.

Conclusão: De Olhar para Trás a Enxergar o Futuro
O objetivo é sair da visão estática da contabilidade e entrar numa abordagem dinâmica e estratégica. Gestão de custos eficaz não se resume a encontrar “o número certo”. Trata-se de compreender que diferentes perguntas exigem diferentes formas de enxergar os custos. Ao adotar essa flexibilidade, você transforma sua contabilidade de um sistema que apenas relata o passado em uma ferramenta que te ajuda a moldar o futuro da empresa.

Agora que você conhece essas opções, quais pontos cegos do seu negócio o método de custeio certo pode finalmente iluminar?

Esta é uma matéria baseada na resenha técnica escrita pelos alunos
RAFAEL BARBOSA ARAUJO DIDIER
LUCAS LARA FIGUEIREDO SOUSA
GABRIELA PEREIRA CABRAL