O despertar do gigante: por que a China está se tornando o novo centro mundial do café

Como o consumo está remodelando o mercado global da bebida

RESENHAS TÉCNICAS

Fabrício Marques, Henrique Rayan e Maria Clara.

11/14/20254 min ler

Matéria baseada na resenha técnica escrita pelo aluno Inácio Abrantes Perrupato
1. China e o café: o gigante que está acordando

A China sempre foi conhecida como a terra do chá, uma tradição milenar, profundamente enraizada na cultura e no dia a dia da população. Por isso, durante muito tempo, o café ocupou um papel tímido no país. Esse cenário, porém, está mudando, e rápido. Com um mercado interno de 1,4 bilhão de pessoas, cada nova tendência se transforma em um fenômeno. E é exatamente isso que está acontecendo com o consumo de café.

Hoje, a China já ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o país com o maior número de cafeterias de rede do mundo, segundo a Forbes. Yunnan (uma província chinesa), responsável por mais de 98% da produção nacional, deixou de ser uma curiosidade agrícola e se firmou como um polo relevante de cafés especiais. A combinação de urbanização, juventude conectada e influência ocidental está empurrando o café para o centro da rotina dos consumidores, criando um mercado que pode remodelar todo o setor global.

Mas o mais impressionante é o paradoxo chinês: ao mesmo tempo em que é um dos 20 maiores produtores do mundo, também é um dos mercados consumidores que mais crescem. E esse crescimento ainda está longe de mostrar seu limite.

2. Números que impressionam: o potencial ainda inexplorado

O melhor indicador do potencial chinês está no consumo per capita. Embora o número esteja subindo, ele ainda é baixíssimo: cerca de 0,19 kg por pessoa ao ano, o equivalente a 15 xícaras. Para comparar, a média global é de 1,36 kg. Japão consome 4,1 kg e Coreia do Sul, 2,44 kg por pessoa.

Em outras palavras: o que vemos no mercado chinês hoje é apenas o começo.

Se a China alcançar apenas a média mundial, sua demanda saltaria para 31,7 milhões de sacas. Se seguir a rota da Coreia do Sul, passaria de 56 milhões de sacas, ultrapassando a atual produção brasileira. E isso não é fantasia. Na última década, o consumo chinês passou de 2 para mais de 6 milhões de sacas, crescendo dez vezes mais rápido que a média global.

É um cenário que não deixa dúvidas: a China será, em muito pouco tempo, o maior mercado consumidor de café do planeta.

3. Como os chineses consomem café: da tradição ao “novo ritual”

Durante décadas, o café instantâneo dominou o mercado chinês. Foi a porta de entrada para uma população acostumada ao chá, oferecendo praticidade e sabor suave. Mas essa fase está mudando. Isso porque hoje, o café torrado e moído é o segmento que mais gera receita no país, um reflexo direto da migração dos consumidores para experiências de maior qualidade. Nos grandes centros urbanos, cafeterias se multiplicam em ritmo acelerado, enquanto o café especial ganha status cultural entre jovens e profissionais.

Ainda assim, o instantâneo continua abrindo portas em cidades menores, onde milhões de consumidores estão tomando café pela primeira vez. Além desses dois mundos, dois segmentos crescem com força:

Café especial: impulsionado por cafeterias e comércio digital.

Cafés prontos para beber (RTD): latas e garrafas que caíram no gosto de jovens que buscam conveniência.

A expressão dessa mudança é visível nas ruas. A China já ultrapassou 49 mil cafeterias de rede. Só a Luckin Coffee, fundada em 2017, possui mais de 24 mil lojas e já vende mais de 1 bilhão de xícaras por ano, superando a Starbucks no próprio território chinês.

4. A China precisa importar: e o Brasil virou protagonista

Mesmo com a expansão agrícola de Yunnan, a China não produz café suficiente para abastecer seu próprio consumo. O país possui um déficit estrutural e depende cada vez mais das importações de café verde. Em 2024, as importações cresceram 24% em volume e ultrapassaram 3,18 milhões de sacas. Mais do que números, o movimento mostra uma clara preferência por cafés frescos e de maior qualidade.

A lista de fornecedores é dominada por Brasil, Colômbia, Vietnã, Etiópia e Indonésia. Mas o Brasil está muito à frente. Em 2023, o Brasil forneceu aproximadamente 89,8% de todo o café verde importado pela China, uma liderança absoluta, isso fez o país se tornar parceiro prioritário, especialmente após 183 empresas brasileiras receberem autorização para exportar diretamente ao mercado chinês.

E esse relacionamento está ficando ainda mais forte. Em 2024, a Luckin Coffee assinou um acordo de 500 milhões de dólares para importar 120 mil toneladas de café brasileiro até 2026. É uma chancela definitiva da qualidade do nosso produto perante um mercado que só cresce.

Contudo, há desafios. Os gargalos logísticos do Brasil, especialmente os constantes atrasos nos portos, prejudicam a previsibilidade das entregas e abrem brecha para concorrentes como Vietnã e Colômbia.

5. Conclusão: um mercado que pode redefinir o futuro do café brasileiro

A China é, sem dúvidas, a maior oportunidade estratégica do século para o café brasileiro. Seu consumo cresce 21% ao ano, enquanto a média global é de apenas 2%. Mesmo em cenários conservadores, a demanda chinesa pode dobrar ou triplicar em poucos anos.

O Brasil está à frente, mas não pode se acomodar. Concorrentes regionais já investem pesado para conquistar fatias do mercado chinês, especialmente nos cafés especiais. O futuro do café mundial está sendo decidido no Oriente. E o Brasil tem tudo para liderar essa nova era , desde que mantenha qualidade, confiabilidade e estratégia.